
não julgues a ausência pelas leis dos homens, pois é a palavra que nos esconjura e não o seu contorno, mormente se cinzelado pelas mãos hábeis do silêncio
abro o flanco do meu jardim, para que aspires o que houver que aspirar. que seja sincero o ardil dos teus olhos, não duvido. entra, o brasido da tarde é um borralho de laranjas firmes
por todas as reentrâncias que houve, derrama-se em sumo a verve límpida, ávida de se exaurir por aí, perdida nos teus poros como suor de uma saudade maior
não me estranhes assim sem o lúpulo das palavras, neste acinte tardio de um entardecer, também ele embaciado pelo tempo. jasmim,
seria a flor dos meus olhos, se te visse
alegrar-se-iam os montes em redor e a dorida fonte das palavras jorraria versos como sardinheiras na velha mouraria. tardes de Tejo azul e rosas desmaiadas, marinheiros andantes nos miradouros ao partir das naus... brandas paragens!
acho que nascia nessa florestação das janelas, eu própria uma janela onde se debruçaria inclinada a Primavera. não vês o quanto a morte me reveste? sem ti não há navio que me leve, hora que me apeteça, como um refresco, bebido em sorvos fundos, sem ti não pode haver sequer brilho na voz, lastro na garganta, viço e virtude na pele
por isso me calo, porque já não tenho ossos para carregar a distância, nem poesia que preste para te honrar em libações de cor e festa. sou barro e em barro me adorno. não sei sorrir, a não ser pela orla discreta do silêncio, para os olhos vazios da noite. nela te encontro, sede e serpente, mas palavras, é por definição a mimese distante de quem as sente!
deixa que as palavras se reabilitem, que os dias se ampliem e espraiem longos e indolentes. deixa-me reaprender a vida, extraindo dela as coisas mais simples que nem sequer um som requerem. o amor? é a ilusão maior, mas não é já de poesia que a ilusão sobrevive, nem são palavras os aros finos e discretos desta lentes submissas de amar...
um abraço grande, e profundo, até vir um tempo melhor...
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