11.2.09

ocasos

é forçoso que te fale hoje do pôr-de-sol não sei se já reparaste que está tudo a recomeçar tudo o que já antes foi e trouxe alegria os dias mais longos as tardes mais lentas e claras e o lume a atrasar-se na moldura da janela parece-nos que ainda é cedo para voltar mas as horas seguiram a sua pulsação normal. o carmim do horizonte é um suavíssimo manto, evoca-nos um cenário luxuriante de mistério terras exóticas onde a ponte é um punhado de ferros magistralmente tecidos para ornamentar o céu e todo o conjunto parece domar o rio. a lua arrasta-se pelo cais, vinda, a subir, a nascente, saída de um barco qualquer onde viva ainda o amor, ou outro mistério assim, vejo as últimas gaivotas como riscos e mastros aenrendilhar o céu, o sol alheio a tudo a lançar o seu último sorriso. na quietude nua de pessoas,
ouvem-se os meus passos a desinquietar o silêncio e as luzes da outra margem, apenas essas, acusam que o tempo caminhou e que, sendo cedo, a noite já não tarda.

não corre ainda o vento da estação, mas também já não corre a invernia. um conforto suave de missão feliz e já cumprida, um reconhecimento pela vida, pelo momento
exacto do mistério... o regresso a casa, válida, vulnerável, cansada, doída, plena, vazia
de alma adormentada, mas entre todas as coisas belas, viva, viva... e é forçoso que te conte que fazes parte deste prelúdio de cor e de agonia. sem ti, o encantamento não se expandia assim no meu mundo, no meu apagado fim de dia, como tinta viva
de um tinteiro que um deus pintor por ali esvazia.

será já a Primavera que, incógnita, na distracção ocasional do Inverno, serena assim se pronuncia?

é forçoso que te conte que me derramas beleza quando apenas existes, e só por existires, como se fosses a lua o sol e o entradecer, ocaso de nós num crepúsculo conjunto, olhar, sentir, dar tudo e depois... crescer. unidos.

meu amor, é forçoso que me dê e que os meus olhos te dêem tudo...





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