deixa-me abrir-te esta noite imensa, por este atalho que temos na voz. é um sossego instalado no rumor do vento, uma inconstância, talvez rajadas que rasgam de alto a baixo o silêncio, sem sequer nos demover de prosseguir com as batidas que o coração temporiza. que se pode dizer do tempo que não vemos passar? da afonia que vem da paz, do aprazível habitáculo de uma existência sem sobressalto? vida amena, posta em sossego, sem que a inquietação venha queimar a pele, ou o olhar. a vibração amena das estrelas, uma centelha na região mais côncava do ser. do coração exacto dos relógios sai o esquecimento, o não-tempo, a névoa doce de viver. somos felizes na bissectriz da distância, já sem pontes, nem ramadas, nem pedras da ribeira. sou uma cor escondida na noite, sou quase penumbra, na tela das estrelas. que se pode dizer do tempo que não vemos passar? grão a grão, o deserto enche, a duna adensa o vazio, a ausência ocupa todo o espaço que nos resta preencher. e não podemos mais do que ficar a ouvir o que do vento vem de novidade. ou a forçar uma passagem estreita, de onde rompa serena, uma e outra voz o nódulo da voz...
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