
penumbras na tua voz, em transparências de lume... poderá ser um lugar habitável, o da sistematização exacta de todas as nomenclaturas que nos inventariam o som expresso na carne. a gramática descritiva de um desejo que sabemos de cor e não tem regras absolutas. e é verdade que a vida nos vive nos sons, se mostra e se despe e se oculta na fala e noutros lugares que são voz (também) do corpo. por exemplo, agora diria sensatamente que só em silêncio te saberia falar e apenas com a perícia do rosto, a mesma que há muitos anos me acode em rubor nos momentos de pele emudecida e emocionada. mas como o condicional é o modo que nos serve, porque nenhum outro a não ser o conjuntivo nos cabe em vez, acrescento prudentemente um "se" que me fará voar de mil rubores daqui até à Sé. se nos tivéssemos na frescura e no lustro da palavra audível, que te diria eu, após o que não teria sabido dizer, porque em rubor? talvez me calasses os lábios com um beijo afundado na voz, porque não seria o momento propício para falas, a não ser, talvez, para miudezas próprias de quem se quer, e se afunda no outro em meiguices disfarçadas de suspiros. quero-te muito, mesmo nesta conjuntiva paixão... e a minha voz daria um harpejo fonológico entre o riso e o balbucio, mas mais sério e cativante, seria o silêncio que nos cairia entre mãos, como um sol ardente.
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