queria escrever um poema rosado de ternura
um poema vasto como um abraço
para que ao lê-lo me soubesses tua
e me lembrasses como eu o faço:
com o coração risonho e cheio de espaço
com as memórias todas que te guardo
como uma alvorada e um tempo novo
como um lugar oculto, secreto e louco
uma volúpia, um arrepio, um beijo
um grito rouco, como uma concha
onde abrigássemos o corpo
meu amor, seria um abraço tonto
um riso solto, uma cascata de água crescente
um lírio aceso no sorriso
mas estamos longe
eu estou a meio do Inverno,
parada à superfície de algo que não existe
tu estás distante, calado e indeciso
como se descobrisses pouco a pouco
que tudo, até a solidão se consome,
em unidades exactas de sombra e luz
e assim nos desprendemos de tudo
primeiro de nós, depois dos outros
e adiamos o último desprendimento
o que nos desprende do amor que criámos puro
e nos morre lento...
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