vem vindo o Inverno em veste branca
o vasto lamento da chuva como um canto
e o vento sibilante entre as trincheiras que escavámos
traz consigo as noites fundas da infância
e os momentos ainda não passados
ou vividos noutros anos

tudo numa só árvore nos floresce
tanto a paz como o inquieta luz do medo
tanto a dor como a saudade
tanto o júbilo sem razão
tanto a lucidez como a verdade

mas vem vindo a neve em passo brando
vem vindo o vulto distante do silêncio
e eu aqui parada a olhar o tempo
num imenso deserto ainda maior
do que o vasto firmamento...

e assim a natureza se repete
de novo vem o Inverno e o recolhimento
de novo vem a alma ampla e quente
do fogo aceso num simples verso
como página que vivemos no presente

boa noite