24.1.10

sabor a poesia

é nestas tardes tardias
que restituímos o tempo

um chá de tenras raízes
arrancadas fundo
desse território intransponível
que margina o coração
tão dentro. tão dentro
sorvo lentamente a tua presença
no olhar
não há sabor maior que este silêncio
de olhar-te
como se a tarde partisse para dentro de nós
e não voltasse

um chá de tímidas razões:
a razão de querer-te é indiscutível
sabes-me bem
tens a delicada calma da camomila
o controverso tumulto do chá preto de Ceilão
a doçura do chá de lima, mas também o mistério
do jasmim das terras ermas; ao primeiro travo sobe à boca
um vazio amargo; mas depois na boca fica
um sabor de resina e de florestas marítimas.

um chá de venturas delicadas
como um abraço, uma enseada repentina

talvez nunca saiba dizer ao certo a que me sabes,
mas sabes-me a erva daninha e depois a uma flora
cuidada e genuína.

só tu podias arrancar-me a música gustativa
desta palavras. porque tu e eu sabemos
da solidão conjunta, partilhada
recolhida

.

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