8.3.11

torpor



quero que venhas mais cedo. o tempo adormece-me por dentro. verto os minutos e vejo-os desparecerem pelos buracos que o frio me fez olhos a dentro. permaneces até tão tarde o mistério da noite que o sono contracena comigo para me afastar da realidade e eu preciso de me sentir real como de sair para fora desta noite empedernida. sorvo lentamente um chá letárgico e deixo que o sangue me fluia para o rosto. esta é a face aberta da solidão que rasgo por ti e para ti, porque te espero cedo e fico mais cedo na impendência de te rodear com o meu quotidiano em troca do teu, com as notícias breves do teu dia em troca das minhas, sabes, hoje não fiz nada de especial, deixei que a chuva e o céu ameaçador me prendessem ao torpor e deixei-me ficar com um livro e um olhar mortiço a ver desaparecerem as horas e tu, que fizeste hoje, como sentiste a escuridão do céu e os passos molhados das pessoas na rua e como me pensaste e como me ornaste as portas para entrar no teu mundo, e como, diz-me como, recebeste no rosto ou nas vidraças o refluxo da chuva, diz-me, a exacta medida do teu sentir, mais cedo, para que possa começar a sentir o presente antes que seja já passado.

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