À mesa éramos três. Mas havia quatro sentados. A solidão ficava entre nós, na ruminação calada de cada vida.
O meu pai pensava nos seus dias no campo. Eram muitos e sob as condições que viessem, fosse chuva ou fosse sol. Encolhia-se no trator como se assim pudesse proteger-se. E a geada!
A minha mãe tinha preocupações muito diferentes. A economia doméstica, o dinheiro à justa e os artigos em lã que fazia para a população inteira. Até eu fiz muitos com ela, acabamentos, cerzir, entregar e receber uns escudos muito inferiores à trabalheira que aquilo dava.
Eu, estava no meu mundo, à espera da escola (dois anos sem poder ir estudar) e a sonhar que havia de aprender a escrever bem para ser escritora.
Éramos três, mas a nuvem, por cima de nós, juntava-se e não era preciso falar.
Tenho saudades deles. Agora sou só uma. Nem consigo formar uma nuvem comum porque nos dispersamos noutras nuvens.
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