Amigo, estarás onde ainda não te vi, vens onde ainda não chegaste, não tens forma, nem recorte, mas tens chegada anunciada, porque te espero. É tarde para chegares, mas podes vir. Amigo, precisa-se, amiga, podes perguntar-me como estou? Prometo não me demorar numa resposta complicada. As coisas são simples. Bastam poucas palavras.
Aqui na cidade somos muitos e não nos falamos. Temos vidas privadas que abrimos à bondade universal, mas não damos nada do que reside nelas, como quando prometemos metade da nossa capa, mas depois, a intenção passa. Podes gritar, não te responde voz nenhuma. Quem se interessa? Todos têm pressa de fugir, de não se deixar ficar na teia de uma outra alma. Prometo ser simples, não te lançar nenhuma rede, nenhum charme, mas posso prometer-te tudo que não tive e dar-te tudo que não tenho. Ofereço o meu ouvido e a curva do meu ombro. Nunca te cortarei a palavra, nem desviarei o meu olhar, não interessa o que digas. Sobretudo não deixarei que saias sem te puxar pelo sorriso. Mas se eu te chamar, não receies, porque sou leve e nunca te irei aprisionar. Amigo, amiga, sou daqueles seres para quem a vida só faz sentido na partilha. A tua presença, amigo, amiga, em solene silêncio, já me bastava. Tenho as palavras presas na garganta, sabes? Tentei falar, mas sozinha, não me sai nada.
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