18.11.21

Sonhos vívidos

As noites, as noites, as noites, as noites embrulham-me neste chaile negro, uma mortalha de vivos, e os sonhos  por mim cavalgam com esporas, sonhos cravados de recriminações, estranhos episódios, retalhos longos que se entrelaçam uns nos outros, sem nexo, com nexo, conexos na rede da minha memória, negros, algumas raras vezes belos e misteriosos, quase sublimes, porque remam para um lago limpo onde vivo o não vivido.

A noite? Neva-me dentro e o frio sopra a fria escuridão. Adormeço contigo nos meus braços tímidamente enlaçados. A tua voz é quem me guia para lá do tempo que nos separa, para lá do lago, na outra margem que talvez, talvez, nos una na mesma aba da mesma ternura, pérfidos e arrojados.

Arregimento quem me permanece, quem não me falha e traja os melhores sonhos da minha alma.

Acordo e abraço a escuridão do pescador que regressa vazio de uma noite conturbada, entre o mar alteroso e a barca tristemente amarga. Busco-te e sei que estás dentro do sorriso que me leva para terra, para o mundo, o mundo, esse horizonte onde tudo que é nosso se esbate.

A noite? A noite é que me leva, a noite é que me lava.



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