22.11.22

Cartas do vento

Como dizer-te que os dias se arrastam como capas na lama, sem parecer exagerada?  Gostava que o sol viesse mais vezes alumiar-me o coração, mas vem chuva, vento e confusão.
Os dias acobertam um velado sentido que não sei reconhecer. Existo, cumpro, compartilho, mas apenas toco levemente na superfície das coisas. Não sei se te amo por amar ou se por te amar te amo. Estás na mesma dimensão do vento e das coisas intocáveis. Tenho a certeza de que o inverno já está a acabar, ou então teríamos tiritado na mesma manta em noites longuíssimas, raras noites surpreeendentes, com o mesmo temor primevo das cavernas nuas. Prometo voltar a amar-te entre essas luzes mistas de tochas toscas bruxeleantes, em breve, antes que o Inverno nos deixe. Prometo continuar a ser a tua admiradora, amante e talvez amada, obscura costureirinha de olhar opaco, na cristalização matinal. Nestes dias lamacentos em que o tempo é uma capa que arrastamos pelos lugares, prometo olhar-te.


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