A idade certa, dizes-me, onde se meteu essa atrevida? Procurei-a nas lojas e nos saldos. Estava esgotada, a prevertida. Achei a idade certa de Sócrates, a dos sofistas, a idade da razão de Sartre, o ano da morte dos poetas, tudo na idade certa. O amor dos amados foi na idade certa. Todos a tiveram, mesmo que curta, foi certa.
Mas a minha idade certa, a tua idade certa, a nossa idade certa são as três inconclusivas. Um subconjunto matemático impossível, como os ângulos obtusos coincidirem com os retos.
Tenho pena meu amor que não se vendam pacotes da idade certa. Tanta coisa se vende, até a alma, o corpo, o ventre, o filho, a honra, a pátria, mas não há pacotes de tempo à venda. Talvez cigarros que abrissem o tempo certo até se consumirem. Fumaríamos o mesmo, com moderada sofreguidão.
Meu amor, perdemos o tempo certo de tudo. Podemos agora amar o que foi, o que não foi, o que podia ser e o que tem sido, mas não podemos amar-nos no mesmo ano, no mesmo sítio com a pele seda da verdade e do vício, um sorriso aparvalhado de paixão presa ao precipício.
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