25.12.22

E nós, meu amor?

Chove devagarinho, parecem lágrimas a quebrar o fumo das chaminés, lágrimas de Deus sobre os lares, onde se aconchegam num sofá as urbanas dores de uma vida igual, com o bem-estar de se saber tudo exatamente assim, igual, pele contra pele, ódio contra ódio, o que for.

E nós, meu amor, ouvimos os sonhos dos outros, destilamos em aguardente as nossas paixões, contemplamos o nosso mundo sem sabermos que somos igualmente urbanos e rotineiros, neste quarto onde as palavras nos tapam o frio e o medo, a solidão e a fome de viver.

E nós, meu amor, que fogo nos arde que nos vai secando a pele em funda cicatriz, talvez se abra mais nestas noites próximas, eu falo, tu dizes, eu acendo, tu consomes, consumimos juntos a lenha deste amor.

E nós, onde estás, onde estou, onde nos achamos mãos e corpos, quando virás ver-me descer a rua a cirandar, num vestido preto e justo, como se a vida fosse festa ou funeral?

E nós, meu amor, meus olhos mouros, meu cavaleiro leal?

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