6.12.22

Antes e depois de ti

Pousei onde quis, borboleta que era, fui em alguns momentos verdadeiramente álacre e muitas vezes também morri.

Há sempre um antes e um depois:  de Cristo, do nascimento das rosas, do fim da melancolia, de ti.

Tu foste o depois de tudo que ainda não vivi. 
Deixei que o tempo me pousasse e, teimosamente, permaneci, deixei-me ficar pousada, inerte, interior.

Julguei que o jogo que jogámos fosse a respiração dos deuses, sendo o prémio de cada parada, o devir.

Mas era com o tempo que jogava, o tempo é o demónio do corpo, a ruga na alma, o ricto no riso.

A intensa sedução, porém, persiste. Os olhos não envelhecem, apenas desenham a curva apertada de todas as raizes.

E eu escrevo-te de asas penhoradas no fundo de ti, contra a matéria e contra o tempo, escrevo como um acréscimo teu, como se o nosso mundo, no fim de todos os tempos, fosse tudo que sobreviveu


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