4.12.22

Morada

Atravessa-me um rio que me ensurdece

Trespassa-me um silêncio poroso e cristalino, passa pelas frestas abertas e ruge

Sinestesias finas que atacam as palavras apócrifas

Não o seriam se eu pudesse desatar todo este enredo, do pé para a mão, um remate profundo

Ficava imune ao medo, à morte, ao que viesse, nada ou tudo

A tua ternura é o declínio dos anjos, batem as portas pelo amor, mas são apaziguamento

Trespassa-me esta pena, atravessou-se em mim e derrama a tinta que te fala

Não posso viver o amor nesta morada, mas que os anjos me elevem ao sentimento puro e apodítico da voz amada

Falemos hoje, uma fala líquida, como o som da pedra no poço da mina

É este rio que me leva, não posso viver o amor nesta morada



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