18.10.21

tempo, sempre o tempo

Costumava aplanar a manhã como aplano a saia antes de sair.

Depois, perdi o tempo e a manhã fez-se remoinho de tarefas ocas.

De tarde, achava sempre tempo para me aplanar no dia e no amor.

Depois, perdi o tempo e a tarde fez-se torrente de tarefas loucas.

Então dirigi para a noite o meu discurso. Mas a noite também se encheu.

E eu deixei de aplanar a manhã e também a tarde e depois a noite.

Deixei de me aplanar para a vida para o cultivo de raras rosas 

e de raros amores.


Hoje continuo sem tempo, mastigo o tempo, absorvo o tempo e

nada faço com ele. Não consigo sequer chegar ao fim das tarefas

quanto mais chegar a mim para me aplanar no beijo da tua boca?


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