Costumava aplanar a manhã como aplano a saia antes de sair.
Depois, perdi o tempo e a manhã fez-se remoinho de tarefas ocas.
De tarde, achava sempre tempo para me aplanar no dia e no amor.
Depois, perdi o tempo e a tarde fez-se torrente de tarefas loucas.
Então dirigi para a noite o meu discurso. Mas a noite também se encheu.
E eu deixei de aplanar a manhã e também a tarde e depois a noite.
Deixei de me aplanar para a vida para o cultivo de raras rosas
e de raros amores.
Hoje continuo sem tempo, mastigo o tempo, absorvo o tempo e
nada faço com ele. Não consigo sequer chegar ao fim das tarefas
quanto mais chegar a mim para me aplanar no beijo da tua boca?
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