Ouço-te, meu amor, e sei que sentes comigo o que sinto contigo. E é tão raro dois sentirem o mesmo, longe no espaço, longe no tempo e longe no destino!
Preciso de ti, meu amor, para iludir a morte devagarinho, eu que vendo vida e vida não tenho, eu a quem a própria renúncia já renunciou, eu a quem a solidão já encenou o fim provável dos restantes dias.
Preciso de encher o peito com o ar da tua boca, o sangue das tuas veias, a luz que trazes nos bolsos e levas aos olhos quando ris.
Preciso que sintas o que sentes quando te sentes sombra da mesma sombra e me o digas com a convicção da morte, quando vem.
Porque o tempo passa por nós, como um poema, lido, escrito, esquecido. E nós, meu amor, somos apenas dois seres que olham na mesma direção, seguindo por caminhos diferidos.
Há destinos que criam nós e se enredam nas pontas cegas de sermos sós. É por isso que em cada poema eu e tu somos profunda e distantente nós.
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