Há muita chama que não se vê, por exemplo, o rubor da Lua e o fundo dos teus olhos quando se acendem para mim
Perigosamente perto, queimo óleos e ilusões, deixo arder, deixa ver, deixa ver
Há muita chama que não se vê, por exemplo, o rubor da Lua e o fundo dos teus olhos quando se acendem para mim
Perigosamente perto, queimo óleos e ilusões, deixo arder, deixa ver, deixa ver
Em quantas noites nuas se escreve o amor e
Em quantas luas se reflete o azul do mar e
Em quanto mar se mira a lua nestas noites de sonhar?
Em quantas mais palavras direi ainda a paixão de viver?
Com quantas rimas e espinhos te espalharei mais rosas pelo caminho?
A urgência lenta de dizer desta agonia do tempo
E na tua ausência perto, quanto mais brilhará na sombra, a lua azul de sempre?
Quando achares a beleza, pára o teu coração e não faças mais nada. Deixa-te morrer por momentos enquanto a olhas, enquanto a ouves, a bebes ou a tocas.
Eu confesso que sou caçadora de momentos. É como sentir no peito uma caixinha de música ou como sair de si para ser parte da beleza.
E, sabes, daria o meu olho miope para encontrar a beleza que só tu reúnes, em todos os sentidos.
Meu amor, tu nos meus sentidos... seria a maior beleza pelo universo consentida.
Dois dedos de conversa, ele casualmente passa, como os namorados de antes, olha e confirma
Ela pura e casta, roliça e franca não se recusa
Ele gajeiro e forte, com fogo nos olhos, mira nos seios o corpo de enfusa
Na lua um ramalhete seco e algum silêncio de malha, bordados ainda a pairar nos dedos
Entre duas gargalhadas, carícias que tolhem o corpo, trepadeiras finas os dedos que passam
E como os seus olhos chamam a chama da tarde
E como ela se faz inocente, mas prega a fundo os olhos nele
Lembras, numa outra existência?
O namoro à antiga, eu e tu, à sombra das tílias, um leve roçar do braço, a saia a esvoaçar na tarde que finda
E a fina filigrama de uma carícia que arrepia
Por fim, um saboroso beijo que sela a promessa e termina o dia
Se fosse o peso era pesado, se fosse a pressa era só prazo, se fosse leve era leveza, se fosse fundo era pausado
Se fosse oculto era pulsão, se conversado era sentido, se combinado era sonhado, se adiado era pena, se recusado era pecado
Alcançar a árvore mais alta, com o mais alto voo de águia
Ficar nela sem jamais descer aos baixios podres da terra
Guardar nas penas outras penas que um dia serão leves
Como o cair da ave sobre a neve e o seu eterno sono breve
"Põe-me na Líbia ardente ou na Cíntia fria" ¹
Onde nenhuma criatura humana perturbe a paz de te guardar na minha vida
Onde uma onda fresca me invada de ti imerecida
¹ Camões, Lusíadas
Era uma igreja fresca como só os lugares de pedras milenares são
Frescas, mudas e com tempo, as pedras partem do chão
Continuam nos arcos de volta inteira, nas abóbodas completas, atentas como orelhas
E ouviram-me por certo chorar por dentro e pedir silêncio a todas as seráficas figuras de santos, anjos e curandeiras
O meu mal de amor não tem lugar nem fronteiras
Nasceu-me cedo e ficará a vida inteira
Árvores caladas conjugais, clorófilas por natureza, contidas no osso forte do seu tronco
Só vejo isso e não vejo pouco
Como elas, gostava de saber que é assim que somos
Uma intemporal massa verde nascida do lodo
Estendo a minha mão levemente enluvada
Para que tires o botão e beijes (demoradamente) as veias enlutadas deste punho
Louco por ti, forte para ti
Is it important for you that flowers flourish
in random, so that
sun spreads fire in your silk skin
So softly that the wind
make tender curls in your hair
So tenderly
That some lost woman open her heart to the deep earth and
Pull out gold, sand, love, living imagery?
I regret to say that used to be me,
now buried in sadness in the most dry sand mill
Will you take some pain over my hair, I just have this waven hand to report alive
To the other lost people finding his path to surface where we can flee high
Ouvir e sentir em loop.
https://youtube.com/watch?v=0wULm54X5Ao&feature=sharedO retrato está na parede (vazia), demasiado perfeito para ser verdade
Os retratos já são a morte a olhar-nos, a morte do rosto, a morte do momento
E depois, antes da luz havia a câmara escura e o mistério do rosto
Amamos por dentro sem a luz dos olhos, buscamos um rosto na câmara escura
Perdemo-nos quando nos encontramos, nus, cegos, dentro de uma redoma barata
Fomos atravessados por dentro num violento golpe do olhar alheio
E, assim, profanados e inseguros, ansiamos e receamos que a imagem exposta seja um perfeito daguerrótipo
Estou a estudar a linguagem única do amor.
Um código exclusivo que nasce nos olhos, passa pela boca e termina nos lábios. Um laço de palavras e uma flor.
Poesia, vinho, riso e a música das mãos. Deve ser esta a linguagem do amor.
A ti ainda não te disse algumas coisas. Por exemplo, sabias que sonhei contigo há duas noites?
Vinhas com a voz contida num discreto diapasão e eu com uma harpa tonta na garganta
Foi tudo tão casual como os encontros dos bichos da terra
Um toque de antenas e um choque de pôr o coração à porta do hospital
Por favor, tenho de pedir-te que não voltes aos meus sonhos sem ser para ficares a noite inteira
So, you should never wait for love, baby. You live in Chinatown and I'm not there anymore. Forget it. There is no love in Chinatown, Jake.
Em memória de um grande argumentista hoje desaparecido, Robert Towne.
Desfolhas o livro pela mão de Cristo ou Satanás e feres a vista na laboriosa letra da esperança
Mas a fé profana o texto, com os caminhos avessos que tiveste de folhear
E a páginas tantas o livro muda e mudo fica o seu dizer
E peregrinas de novo pelo livro que terás contigo à cabeceira e lerás até ao fim
Repara, é a morte crescente, o peso dos minutos que queres preencher
Podes iludir a existência
Mas é ela que te ilude a ti
O tempo é liso e demorado e existem tantas fugas, tantas mentiras, até ao fundo do que vês
Mas a pulsão é inversa ao que esperas viver, esperando por aquilo que virá, talvez
Estou comigo e é comigo que estou. Falo-me e não digo nada. Canso-me de mim todos os dias. Exausto-me à noite.
Esta ciência da solidão pesa mais do que parece. Mede-se numa proveta de silêncios. Podemos até ficar admirados por existirmos.
Se me ouves, talvez me entendas. Se me entendes, bem podias rasgar a noite imensa subindo ao cume da voz, ao cicio do segredo.
Confirma. Eu existo porque tu existes? Eu existo mesmo que não existas?
Preciso de ti, percebes? Como a árvore espera o vento para poder alisar os ramos.
Estendendo a outra árvore os seus beijos.
A espuma de uma onda a desfazer-se em bolhas, a minerar a areia
Bolhas de ar como minutos que rebentam um a um
Enquanto o relógio atarda tudo e o mundo é mudo
Olha as pedras, como são sábias.
Algumas macias, outras argutas. Pedras dementes, proeminentes.
Fazem um passeio tosco ou elegante as pedras.
Fazem caminhos áridos onde só anda quem nada sente.
Pedras de arremesso, quem as esconde?
A mineralogia não é a minha ciência, mas gostava de alisar as pedras que ferem os pés do caminhante.
As pedras macias e quentes são as que procuro, no mar e na terra.
Pedras macias na minha pele, um toque doce quase afago
Essas são as pedras que eu trago
Já fui,
Tudo já foi
Mesmo o que ficou é ido
Não me busques aqui nem em qualquer lugar
Quem quer que encontres já não sou eu
Porque já fui
O que quis ser passou
Estarei em qualquer afago da brisa, na cortina que se agita, no bater síncrono dos corações resistentes
Cearas, montes e rios são doravante os meus limites
Mas fecha a porta.
Que ninguém mais se lembre que existes
Não te esforces mais pelo velho ramo da árvore podre
Se o vento a leva para longe, se ela te foge, deixa
Não alcances quem se afoga no seu próprio elemento
Tu és a árvore frondosa da manhã e a tua sombra é fresca
Não queiras o rio estreito, com margens calcinadas
Busca antes o amplo dorso da terra alta iluminada
não há flores a florir no meu corpo, nem ouro falso
meus dedos foram pianos mudos, meus seios serenos mudam
e os braços remos que rasam a terra, escavando, podando o mundo
trago amor no regaço, aceso e puro como um regato
em tudo o mais tenha a idade das estrelas e a precisão dos astros
mas o amor... não o acho
Os meus dedos seda e linha cosem os teus olhos com doçura. Baixas, as pálpebras sentem os fechados sons na noite
Trazem um indeterminado risco de luz muito silente
Em que certas palavras e gestos são uma cisão (quase) demente, no cenário de noites idas, as que nos trespassa(v)m os seios os membros, os ombros e os sentidos
E eu coso com os meus dedos o mundo possível, os medos, a fome, a alma bruta dos esquecidos
Mas coso o nosso mundo como se arma a casa de um botão, que entra e sai no peito destemido
Abro uma janela para ti, na rua projetada ao bairro escuro, onde a sarjeta regorgita as nódoas do último verão
As folhas de um outono lodacento
esmagadas pelos passos (cegos) de quem vai e volta, vai e volta, sempre na mesma direção
Sabe a sal a chuva urbana para os que vêm e vão
Eu, sentada numa repartição, à espera, à espera, e és tu que chamo, em fuga, em fuga, para onde os sonhos vão
A vida, a vida, sabes, desarma o sonho, não te inclui sempre, nem sequer me inclui a mim
Como na repartição, esperamos a nossa vez e, na espera, contemplamos o tempo, essa página
Que abre o meu peito para ti, onde cabes, onde sempre coubeste, onde a espera, de tanta, até se esquece
A vida, sabes, tem muitas repartições. Mas nenhuma parte claramente aberta
Que nos entre para sempre o ser sonhado, 'para sempre' sendo a parte mais incerta
Vamos e voltamos, e se abrimos o sonho é porque temos uma asa aberta e um caminho que (ainda) nos espera
Sabes? Às vezes, quando fecho a luz de todas as fontes, fica um fio de água acesa, com o seu tímido rumor de gente.
Será fuga será dor? Água não é certamente, é o amor que sopra assim.
Às vezes, a natureza morta vive destas fontes que só o ser vê que só o outro sente.
Conto pelos dias os nós dos dedos
Tempos passados nos levaram cedo e fomos
A metade lunar, a meta da luz, o mel mágico e a mágica flor
Nos altos lumes onde nos arde o mesmo amor
Os meus olhos gelaram na terra fria, ventou demais onde estivemos, secaram-me os olhos, meu amor, palavras brasas antes agora cinzas.
Que posso fazer por ti, minha alma, que não fizera já? Rosas e rosários desfolhados em teu louvor, roubados arroubos de uma vida cega, onde ainda sangue que cresça erva?
Ando pela vida com ligeireza, com a mesma desatenção com que largo os sapatos do dia, à entrada dos meus pés e again,
Na casa, em casa, numa casa qualquer, entro e depois não sei sair. Dispo-me devagar no soalho, deito a minha pele como cera, e aliso o brilho dos olhos nesse temporal e, olha,
Não me digam, pessoas, olha ali estão elas, again! não as conheço com os seus laços e lenços sem luz, nem enamoradas afeições e até
Na rua, fecho-me em parêntesis retos como vidros à prova do olhar, para não me captarem a dor dos passeios enlameados e sei
Se entranço o sonho e me ponho a dançar, receio gostar tanto (de ti) again que, depois, não possa parar
Ah, as enamoradas afeições que nos faziam tremer em cada carta! Sou a sombra exata do fim do amor, letras apagadas, destroçadas, sem sabor
Suavidade. Sinto o conforto, a lisura das emoções, o precalço de tropeçar nos teus olhos, num abraço longo de silenciosa paixão. Suavidade. Como ficamos depois de calçarmos devagar o amor.
A suavidade que me dás envolve todo o meu ser.
Se a vida nos venceu, que nos não vença o amor.
Prometo amar-te à margem do tempo, se tempo tiver para tanto.
Eram tantos lírios a riscar os céus, quando os meus olhos sentiam os teus
Eram tantas estrelas sibilantes, tanta emoção dentro de cada instante
Foi a noite mais ampla de tempo e o amor vibrou de vida em amplas escalas de suave, suavíssimo luar imenso
Os poemas planam pelas águas deste rio, são anjos sem cair e falam-me com voz de água, contam-me de ti
As coisas ditas, lavadas, estendidas ao sol, são sinais que deixamos de uma passagem feliz por amor, pés na relva, braços fortes de ser, munidos de um olhar que diz, frugalmente, o que falta dizer
Os poemas planam, sem dono, podem ser ditos por bocas loucas, incertas como nós, mas nunca outros saberão como fomos
Meu amor, deixa-os planar como seja, como for. O céu sideral é o destino das nossas almas, talhadas parar o intenso querer
A vida que escolhemos é a vida que temos. Nunca hesites entre o abismo e o chão atapetado. Atira-te pela amurada mais alta. Chegas inteiro ao outro lado. O tapete que tanto aprecias, com amor, não te faz falta
Escrever é como pousar o olhar entre as aves e imaginar para onde vão. Leva-nos a vontade de dizer, sem saber o quê, tal como elas voam sem saber que intenção o voo tem.
Escrevo assim contida, num exato ritual de quem está viva e se aviva em mais um voo intransitivo.
Escrever é pensar no risco, na marca, no tempo e no verbo existo.
Alguém saberá por que escreve. Eu não percebo nada disso. Sei apenas que me assinalo no mapa dos seres alalados, tão proximamente vivo do teu lado.
Quando o dia se abre ao mundo, as aves incertas a fluir, um vento leve calado, buscamos o Sol, no seu imutável lado, e sabemos que estamos vivos, prontos para viver em sobressalto o tempo que nos é devido.
Se te escrevesse uma carta, era capaz de não me chegar todo o papel que já deixei em branco
Se te escrevesse uma carta diria, logo no início, antes que o papel me faltasse, que a poesia é fumo do tempo
Massa gasosa indo por esse céu aberto, para o jardim das rosas, campo raso, onde já não é preciso semear palavras,
Nessa altura, saberás que o amor puro e decantado floresce em cada flor, na mais pura expressão da ida idade
Se eu te escrevesse uma carta acabá-la-ia com a palavra eterna e muda da poesia que fizemos, mesmo não dizendo nada
Hoje está Lua cheia, Lua de namorados que se declaram pelo brilho do olhar. Todos os namorados trazem a Lua nos olhos, mesmo que não saibam. Decoram-se com flores lunares, elevam-se ao estado da eterna felicidade.
Mas não sabem, pois não? Não lhes digas, deixa-os prender o dia, colar nos olhos o momento.
Hoje está Lua cheia à chuva e eu lembrei-me de ti. Os dias de outubro trazem um halo de vapor perfumado, como se o encanto fosse e tivesse sido sempre assim. Desejo na bruma, névoa de desejo e a luz do encanto.
Não lhes digas, eles não sabem que um simples ponto no tempo pode cristalizar as suas vidas para sempre.
A chuva rooeu os dias e os dias roeram as pedras da rua, desanimadamente espalhadas no que foi a pele perfeita das multidões
Tal como o mundo roeu por dentro a alegria dos homens, deixando nos nossos olhos o ruído lento da chuva, nós também fomos corroídos pela água ácida do mundo
Eu sei que tu permaneces no limbo das coisas, sei-o, porque está escrito na orla da atmosfera, para lá de todas as cores que resistem
Sabê-lo é suave, é como beber águas limpas, é quase sentir que há algo na razão da vida que no-la devolve com gosto
Ultimamente não acredito muito em nada, nem sequer na candura das pombas,
Tudo me demonstra a inútil reserva do tempo
E, sem ti, sofro a minha insuportável presença inutilmente
Tanto, tanto a dizer, com lareira ou lenha fria, mosaico ou lambrim, tanto, tanto tanto sorriso quente, tanta ternura a aquecer
Penso na inclinação do corpo e é como sentar na tua a solidão que é minha e sempre balanço só
Quero ser o cadeirão e a noite, ouvir o crepitar do teu lume, soprar as cinzas do coração e talvez, talvez, adormecer com o sopro suavíssimo da tua voz
dessa noite que balanças,
Não ainda, nem sempre, por vezes vejo, ouço, danço dentro
Se te vejo, amo o teu rosto como um pôr de sol de tinta fresca
Nem ainda fui nem já irei, agora que nada espero, vou e ficarei
Nos teus olhos, tinta fresca, a estrada escura, este caminho cumprido sem fé até ao fim
Liga-me. Já não consigo viver mais. Estou a despedir-me deste mundo e quero deixar-te este meu legado. T. 965870081 Se falhares, és mais um ...